Fernandinho Beira-mar : a ascensão criminosa que obrigou o Brasil a criar um sistema penitenciário federal .
A história de Luís Fernando da Costa, o temido Fernandinho Beira-Mar, é a trajectória de um órfão da Baixada Fluminense que evoluiu de pequenos furtos para comandar o maior esquema de drogas do Rio de Janeiro, forçando o Estado brasileiro a mudar as próprias estruturas de encarceramento. Durante anos, controlou cerca de 80% dos entorpecentes vendidos no Rio, operando um modelo de tráfico baseado em atacado e logística profissionalizada.
Nascido em 1967, na favela Beiramar, em Duque de Caxias, Luís Fernando era filho de Zelina Laurentina da Costa, lavadeira e faxineira que sustentava vários filhos sozinha. Zelina insistia na escola, mesmo na miséria dos anos 70, mas morreu atropelada ao regressar do trabalho. O adolescente ficou entregue às ruas, num ambiente onde pequenos furtos e roubos eram rotineiros.
O primeiro grande golpe ocorreu quando, ainda jovem, participou no assalto a um quartel, roubando armas de grosso calibre para revender a traficantes que começavam a disputar territórios no Rio. A lição que tirou foi simples: “quem controla o fornecimento, controla o poder”.
A revolução logística de tráfico
Após sair da prisão nos anos 90, reuniu sete homens de confiança, entre eles Jaime Amato Filho e Chiquinho Meleca. A estratégia era empresarial: eliminar intermediários, garantir abastecimento contínuo e dominar a logística.
Naquele período, o Rio enfrentava desabastecimento frequente. As drogas chegavam caras, em má qualidade e de forma irregular. Beira-Mar identificou três pilares: estoque permanente, melhor produto ao melhor preço, entrega rápida.
Viajou a Capitão Bado, no Paraguai, e fez à família Morel um acordo directo: queria comprar pelo preço dos intermediários, pagando mais e assumindo todo o transporte. A promessa era simples: volume, rapidez e risco zero para os fornecedores.
O modelo transformou-se num sistema de abastecimento contínuo 24 horas por dia. Na escalada por mais poder, aliou-se ainda ao comandante das FARC, Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio, tornando-se o único brasileiro com acesso directo à produção colombiana. O esquema movimentava cerca de 240 milhões de dólares por ano , com um património rastreado de 97 bens entre imóveis, empresas e actividades de fachada.
Uma investigação do Senado Federal concluiu que Beira-Mar controlava “cerca de 80% dos entorpecentes comercializados no estado do Rio de Janeiro” .
